sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O que é literatura?



1º ano e revisão para o 2º ano e 3º ano do Ensino Médio

O que é literatura?

A palavra serve para comunicar e interagir. E também para criar literatura, isto é, criar arte, provocar emoções, produzir efeitos estéticos. Estudar literatura implica apropriar-se de alguns dos conceitos básicos dessa arte, mas também deixar o espírito leve e solto, pronto para saltos, vôos e decolagens.

A Literatura é uma das formas de expressão artística do ser humano, juntamente com a música, a pintura, a dança, a escultura, o teatro, etc. Assim como o material da escultura são as formas e os volumes e o da pintura são as formas e as cores, o material básico da literatura é a palavra. Literatura é a arte da palavra.

Como parte integrante da cultura, a literatura já passou por diferentes formas de expressão, de acordo com o momento histórico e com a situação de produção. Na Grécia antiga e na Idade Média, por exemplo, sua transmissão ocorria basicamente de forma oral, já pouquíssimas pessoas eram para serem lidos silenciosamente pelos leitores. Contudo, além do registro escrito da literatura, publicada em livros e revistas, há outros suportes que levam o texto literário até o público, como o CD, o audiolivro, a internet e inúmeras adaptações feitas para o cinema e TV.

O que é literatura? Não existe uma definição única e unânime para literatura. Há quem prefira dizer o que ela não é. De qualquer modo, para efeito de reflexão, é possível destacar alguns dos aspectos que envolvem o texto literário do ponto de vista da linguagem e do seu papel social e cultural.

As funções hedonística e catártica da literatura

Para os gregos, a arte tinha também outras duas funções: a hedonística e a catártica. De acordo com a concepção hedônica (hedon=prazer), a arte devia proporcionar prazer, retratando o belo. E, para eles, o belo na arte consistia na semelhança entre a obra de arte e a verdade ou a natureza.

A concepção catártica advém do papel que as tragédias desempenhavam no mundo grego. Aristóteles, o primeiro teórico a conceituar a tragédia, define esse tipo de texto a partir de dois conceitos: a mimese, ou imitação da palavra e do gesto, que para ser eficaz, deve despertar no público os sentimentos de terror e piedade; e a catarse, efeito moral e purificador que proporciona o alívio desses sentimentos. Com finais que normalmente culminam em envenenamento, assassinatos e suicídio, as tragédias aliviavam as tensões e conflitos do mundo grego.

Modernamente, esses conceitos desapareceram, mas a arte ainda cumpre o papel de proporcionar prazer e de aliviar as tensões da alma humana. Ou, na concepção do teórico russo Chklovski, o papel de provocar um estranhamento em face da realidade, como se nos desautomatizássemos e passássemos a ver o mundo com outros olhos.

Literatura: comunicação, interlocução, recriação

Literatura é linguagem e, como tal, cumpre juntamente com outras artes, um papel comunicativo na sociedade, podendo tanto influenciar o público quanto ser influenciada por ele.
O leitor de um texto literário ou o contemplador da obra de arte não é um ser passivo que apenas recebe a comunicação, conforme lembra o pensador russo Mikahil Bakthin. Mesmo situado em um tempo histórico diferente do tempo de produção da obra, ele também a recria e atualiza os seus sentidos com base em suas vivências pessoais e nas referências artísticas e culturais do seu tempo. Por outro lado, no momento em que está criando a obra, o artista já é influenciado pelo perfil do público que tem em mente. Isso se reflete nos temas, nos valores e no tipo de linguagem que escolhe.

Leitura 1

Grito negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
e tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!

(in: Mário de Andrade, org. Antologia temática de poesia africana.
 3.ed. Lisboa: Instituto Cabo-verdeano do livro, 1980.v.1.p.180)


Eu lírico: a voz do poema

       Chamamos de eu lírico, eu poético ou simplesmente  sujeito à pessoa que fala no poema.
        Nem sempre a voz do eu lírico corresponde à do escritor.

        Em várias canções de Chico Buarque, por exemplo, o eu lírico é feminino.
                                                                       


Veja um trecho da canção “Ana de Amsterdam”:

Eu cruzei um oceano
        
 Na esperança de casar
                                                                              Fiz mil bocas pra Solano

    Fui beijada por Gaspar


  1. O texto lido é um poema, um dos vários gêneros literários. Nos poemas, é comum o eu lírico expor seus sentimentos e pensamentos.
a)      Qual é o tema do poema lido?
b)      O que predomina nesse poema: aspectos individuais ou  sociais?

  1. Os poemas geralmente utilizam uma linguagem plurissignificativa, isto é, uma linguagem figurada, em que as palavras apresentam mais de um sentido. O eu lírico do poema lido, por exemplo, chama a si mesmo de carvão. Que sentidos têm as palavras carvão e mina no contexto?
  2. Para o patrão, o eu lírico é carvão, pois é a força motriz do trabalho e da produção. O eu lírico aceita sua condição de “carvão”, mas com um sentido diferente do que tem para o patrão. Releia os versos finais do poema e interprete o último verso.
                   Eu sou carvão
                    Tenho que arder
                    Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
                    Sim! Eu serei o teu carvão, patrão!


Espero que esta leitura tenha sido proveitosa para os primeiros estudos em literatura. Na próxima iremos conhecer os estilos de época e como estudar literatura.
Abraços!

Fonte: CEREJA, William Roberto. THEREZA, Cochar Magalhães. Literatura brasileira: em diálogo com outras literaturas e outras linguagens. 4.ed. reform. São Paulo. Atual. 2009.

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