quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Nossa "Lingua Portuguesa" e "outras"! - Parte I

Encontrei esse texto no site da Revista Língua Portuguesa, recomendo. Matéria interessante e curiosa. Afinal, a globalização e a diversidade cultural fazem com que nossa língua seja adaptável a todo instante, e quando necessário, seja pela estranheza ou pela própria pronuncia e sons adversos. 

Esfia de muçarela?

Muitas palavras estrangeiras acabam cedo ou tarde sendo aportuguesadas. Num primeiro momento, mantém-se a grafia importada e tenta-se tanto quanto possível preservar também a pronúncia original. O que, por sinal, é bem difícil. Pronunciar, ainda que com alguma adaptação, sons estranhos aos nossos hábitos articulatórios gera dois tipos de embaraço: em primeiro lugar, é preciso parar no meio da frase para mudar de "registro" fonético (isto é, a programação motora dos músculos fonadores, há muitos anos consolidada) no momento de articular a palavra alienígena; em segundo lugar, tal pronúncia frequentemente soa afetada e causa estranheza.

Depois que a pronúncia da palavra já se aclimatou em nosso sistema fonológico, chega a hora de adaptar a grafia a essa pronúncia. Foi assim que "football" (pronunciado "fútbol") passou, primeiro foneticamente, depois graficamente, a "futebol".

Mas há palavras cuja versão nacionalizada simplesmente não pega, ou porque a forma estrangeira está demasiado consagrada, ou talvez porque o aportuguesamento lhe dê um aspecto "vulgar". É o caso de "garçom" e "acordeom", que, malgrado o "m" final em lugar do "n" original, mantêm incólume a terminação francesa. As versões portuguesas "garção" e "acordeão", embora registradas nos dicionários e propugnadas por gramáticos, quase não se ouvem nas ruas.
Às vezes, a grafia incorreta de uma palavra se torna tão disseminada que a certa é que parece errada. Quem sabe por isso a maioria dos restaurantes self-service venda comida a "kilo" e não a "quilo". Por essa mesma razão, poucos sabem que a grafia correta de "mussarela" é "muçarela" - assim mesmo, com cê-cedilha e tudo! Há também "mozarela", mais aderente ao étimo italiano "mozzarella", mas quem grafa ou pronuncia assim?
Temos ainda a "esfia", forma preferida pelos gramáticos a "esfirra" e sobretudo a "esfiha", que nem é compatível com a nossa ortografia. Não obstante, é esta última forma a única que se lê nos anúncios das pastelarias e restaurantes de comida árabe. "Esfia" tem, aliás, o inconveniente de omitir um fonema ("rr" ou "h" aspirado) que todos pronunciam. Portanto, soa profundamente artificial.

Como o uso é o senhor absoluto da língua, é de se questionar se a grafia não deveria pautar-se justamente por ele, especialmente em casos consagrados como esses, em que o certo parece errado. É o que fazem outros idiomas, cujas regras ortográficas são bem menos rígidas que as nossas. Afinal, que comerciante teria coragem de anunciar esfias de muçarela? Grafado assim, esse prato fica até sem gosto!


Referência:

Blog do Aldo Bizzocchi

http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/esfia-de-mucarela-293852-1.asp
https://www.facebook.com/102262428214561/photos/a.102285138212290/126347022472768/?type=3
https://www.gramatika.com.br/mucarela-ou-mussarela/